IR PARA FORA CÁ DENTRO
Curioso o texto da UNICA sobre o presidente da Câmara de Alcoutim. Sente-se ali o filho da terra que se esforça por manter vivo o postal ilustrado. Aquilo que para os citadinos são imagens bucólicas constitui, frequentemente, para quem lá vive, a pasmaceira sem horizontes.
Quem já viveu em pequenas povoações pela Europa central, sabe que o conceito que se procura manter é o da "ruralidade equilibrada", ou seja, se olharmos pelas janelas das traseiras vemos os campos cultivados, mas se o fizermos pela frente da casa, avistamos uma escola com condições, um supermercado de média dimensão e, com sorte, um pequeno cinema. Ou seja, não encontramos ali a última das novidades culturais, ou os produtos da última tecnologia, mas vive-se com um conforto digno. São sítios em que todos podem viver sem grandes lamentações.
Francisco Amaral refere ainda as dificuldades que as directivas relativas à Reserva Agrícola Nacional colocam. Não conheço o caso de Alcoutim, mas em muitos sítios, estas indicações constituem sobretudo meros entraves ao desenvolvimento dos concelhos. Por exemplo, se tivermos uma pequena propriedade, onde não existe uma habitação e decidirmos dedicar-nos a viver do que a horta dá e a passar os anoiteceres no pórtico de uma pequena casa, não o podemos fazer. Nada pode ali ser edificado que não sirva exclusivamente o propósito do semeador. Não se trata de não deixar construir vivendas apalhaçadas: nada mesmo. A ideia é que se viva na localidade mais próxima e se vá de carro, ou de tractor, até ao local de trabalho. Nada disto refere concretamente o autarca. Refiro eu, que já vi. E tal como qualquer pessoa que tenha morado um dia num sítio destes sabe que tudo isto se contorna com esquemas. Haja dinheiro e o barracão para guardar as máquinas transforma-se num gigantesco conjunto de habitações...
O que eu digo é que estamos todos de acordo em proteger a nossa paisagem e os nosso recursos. Mas talvez um pouco de sensatez não fizesse mal, nestas decisões. Afinal, estamos a proteger as nossas terras para quem?
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